sábado, 14 de maio de 2022

Acho que esta semana chorei um bocadinho todos os dias, sempre que sentia que me estava despedir desta barriguinha, desta dinâmica com a bebé.
Anos passados a desejar ter filhos. Um corpo anos a comportar-se como um relógio na mecânica da sua fisiologia e a vida a acompanhar o silêncio do corpo. 
Uns dias depois de atirar a toalha ao chão, de chorar os filhos que nunca teria, o corpo comportou-se de maneira diferente. 
Esperei dia a após dia, imaginei que sim e imaginei o pior dos nãos. Um dia fiz o teste e deu positivo, vi e revi a simbologia. E a magia estava a começar. Seguiram-se e seguem-se dias de espanto por ver de repente o corpo a fazer acontecer o mistério da criação de uma vida, uma bebé, a Elisa. Ver a minha barriga crescer, desde cedo sentir-lhe os movimentos constantes nesta companhia que me faz diariamente. Como se soubesse que o meu coração descansa nesta conversa de reviravoltas e pontapés e festinhas na barriga. As suas "festinhas" descordenadas de dentro para fora aquecem-me o coração e a alma. E jamais vou saber expressar o loop de felicidade e plenitude que esta travessia desencadeia, e nele cresce o amor. Um amor que está a horas de se transformar nesta dissociação dos corpos, de dois corações que vão passar a cruzar-se na vida extra uterina. É uma contagem decrescente e crescente ao mesmo tempo. Por ela tenho chorado todos os dias. 
A eminência da nova etapa dá-me saudades desta fase de pura magia e mistério, e uma vertigem de desejo que passar à fase seguinte.
 E de uma para outra há um contínuo caminho para que cada uma de nós atravesse um portal para nos encontrarmos cara a cara, pele a pele individuais e ao mesmo tempo sempre ligadas.
Obrigada Amor, Elisa por nos teres escolhido como pais, por me teres escolhido como mãe. Estamos aqui para te receber e dar o melhor amor que cada um sabe e seguirmos nesta jornada de continua aprendizagem e crescimento. Podes sair para os nossos braços Amor, cá te esperamos para seguirmos vida fora. 
Agradecer em reiterada vénia ao meu corpo, ao meu útero esta magia, sabendo o esforço em que trava por nós. Muito lhe pedi para ser a tua casa, para te acolher e para que aquilo que o deixa fragilizado se dissolvesse neste mistério. Obrigada.

Sem comentários: