sábado, 4 de maio de 2019



Sábado de manhã


Hoje, à hora em que faziam 8 anos sobre o telefonema que me atirou para a sensação desconhecida do "já não haver nada a fazer", cruzei-me com a D. Adélia, minha vizinha. . 
Às 8h50 ia arrancar mais duas linhas das suas batatas. Há três dias ao final da tarde mostrava-me como fazia para as arrancar sem estragar, "hoje já lhe ensinei como se arrancam as batatas e expliquei como semeei" dizia-me. Não se vê bem mas atrás dela está a moleta arrumada, substituída pela enxada e pela energia dos seus lucidos 85 anos. Hoje, como naquela outra conversa, em que me vieram as lágrimas, desejou-me uma vida feliz como a dela, retirando apenas a unica coisa triste que lhe aconteceu, repetiu olhando-me nos olhos... Tem pena que me vá embora mas confia que vou para estar melhor. 
Tenho de fazer conta aos anos que me marcam e espantar-me deste numero. Continuo a ter horas em que me esqueço e sinto o impulso de contar qualquer coisa à minha mãe. E têm sido tantos, cada vez que a ansiedade dispara neste ciclo que se encerra e outro, menos incerto, se inicia.
Hoje, a D. Adélia foi luz sobre o dia das memórias difíceis, foi a força que me susteve deste silêncio, foi o sentimento incondicional de nos queremos bem. Foi a voz da força do amor incondicional da minha mãe.

Grata


Sem comentários: