Entre os inesperados (bons) da vida, há os esperados e
desejados. O Piodão, foi um desses. Imaginei-o tantas vezes na forma de um
trail, que correria no verde para chegar à paleta de xisto. Adiei para um ano,
depois para outro e mais outro. Adiei para lá chegar este fim de semana. As
curvas e contra-curvas da serra do Açor começam a tornar-se familiares à medida
que as nossas incursões avançam nos seus meandros. Começar por desvendar a Foz
D´Égua, na confluência de duas ribeiras converge também a nossa atenção para aquele
enquadramento mais comum, mas a minha atenção não cessou também de se expandir
à grandiosidade das encostas que se elevam ao céu, como se quisessem separar
este detalhe do resto mundo. E é assim que eu o sinto, num mundo à parte,
daquele em que eu própria vivo. Daqui para Arganil para descansar e ansiar a continuidade
deste alheamento e fusão com as particularidades desta serra. E continuou pela
manhã aproximando o pé da praia fluvial de Coja, e molhando-o de forma
irreversível na Fraga da Pena. Perseguir as sucessivas cascatas, assistir à
coragem de quem mergulha por mim nas àguas um-tudo-nada frescas. Regressar por
outro trilho com vista singular para ambas as vertentes. O meu mundo comum fica
mais pequeno comparado com aquilo que a minha vista alcança. Até que alcança
novamente o Piodão, numa aproximação mais enamorada. As curvas permitem retardar
aquilo que já sei ser uma certeza. O encontro. Ao subir o primeiro degrau,
imagino-me uma anciã no esforço que faço para lembrar como seria em jovem. As
portas e janelas trazem vizinhos e conversas à boca-pequena no intervalo da
lavoura e dos lavoures. Encantador o Piodão. Descer novamente para a Foz D´Égua,
e descer ainda mais um pouco às aguas num tímido mergulho. Não podia regressar
sem experimentar como apesar de frias, são límpidas e de uma energia quase
intocável que trazem do centro da terra. É com essa energia que voltamos a
subir ao topo da cordilheira da Serra do Açor. A tal, que se torna familiar,
neste mundo à parte, neste mundo onde já ganhei uma estima pela eólica 34. Porque no meio de tantas esta sopra-me sonhos que se tornam realidade.
1 comentário:
Só conheço por fotos que outros me presenteiam, mas deve ser linda ao vivo.
beijinho
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