domingo, 8 de novembro de 2015




Não questionar o destino, diz desta forma de seguir confiante na viagem e na companhia, acreditando à partida que são as melhores que posso agradecer. O caminho já era paisagem para apreciar e o sol o anfitrião desta fuga. O sol de inverno é inspirador pela forma como nos mima e afaga a pele com o seu calor. Faz-me entrar inconsciente naquele ciclo de sentir vontade de fechar os olhos para o apreciar em mim e abri-los para ver como ilumina o meu redor.
Lá fomos por partes, seguindo-se a minha sequência favorita. Aquela em que trocamos as rodas pelos nossos passos, para depois trocarmos o alcatrão pela terra batida e finalmente trocarmos esta ultima, pelo trilho. Acrescento que esta sequência foi quase sempre a subir, não para dar ideia da dificuldade, mas para não esquecer as vezes em que me virei para trás e vi a paisagem a crescer para terra e para o mar. Mergulhei com a vegetação à altura da cintura, com uma visão privilegiada da envolvente. Olha aqui, olha ali… e este cheirinho que nunca posso levar para casa… grava grava… não esquece. Pensamentos suficientemente curtos para não me dispersar do essencial e dar espaço a outros que se prendem com o meu olhar para dentro. Continuava sem fazer a menor ideia do que me esperava e o quer que fosse não podia esperar muito, pois apesar do sol fazer lembrar o verão, a hora é de inverno. Andei de baloiço, ri e caí. Apressamo-nos a descer, tirando aqui e ali os olhos do trilho empedrado para olhar lá mais para baixo e eternizar a paisagem em pixéis. Continuei Olha aqui, olha ali… e este cheirinho que nunca posso levar para casa… grava grava… não esquece. Não esquece este mar azul turquesa….Mar?!... Azul turquesa?! Mas como é que eu vim aqui parar?! É isto que me espera?!
A temperatura amena permitia-nos conspirar sobre a eventualidade de ir a banhos mas cruzarmo-nos com quem já estava de subida fazia-nos duvidar de tamanha loucura em pleno Novembro. Finalmente chegar lá a baixo e fazer uma última troca. Trocar o trilho pelo areal.
Diz que a falésia tem a forma de um pescoço de cavalo mas eu diria que podia assemelhar-se a uma orelha, onde se encerram segredos vários. O céu límpido deixou-me vislumbrar na forma de uma rocha um barco ancorado à costa e mais à frente descobri noutra o perfil de um rosto. Se este rosto sussurrasse frases bonitas à praia, certamente lhe diria que é linda. Assim como foi lindo o gesto de me levar ali àquele cantinho do mundo. Pude observar o rebentamento das pequenas ondas que avançavam para terra e com o meu lenço esvoaçante senti-me como o principezinho a ver divertido os vários pores-do-sol do seu planeta. Da rosa que trago sempre comigo, os espinhos não são se não aquilo que me desperta para a importância de aproveitar a vida.
E de repente os segredos a ser confessados podiam ser só os nossos, pois não tardamos a ficar sós por entre os tons pastel de um fim de tarde. Estava na hora de regressar e foi já nos escuro que nos guiamos pela claridade do trilho e pelo instinto da minha desorientação para chegar novamente ao topo. Invertida a sequência rolamos depois até à marginal de Sesimbra onde passeamos mais um pouco e onde quase fui engolida por baleia. Não me salvou nenhum príncipe desta Moby Dick urbana mas regressei a casa com a sensação que me resgatou antes para um destino onde sabia que tudo o que eu precisava era de ser feliz.


e sou.


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