Olhou para mim com aquele ar de-quem-a-estava-a-fazer e
certificou-se de que eu não via. Eu, que não o acho suspeito, percebi que era suposto
não olhar para o GPS. Se eu não olhar, não vejo “ao certo” para onde vamos. Ao
chegarmos a maior surpresa foi para ele. Aquele local abandonado tem agora um
improvisado estacionamento e onde outrora não se via ninguém, aparece agora uma
romaria para ali apreciar o-estado-a-que-isto-chegou. Ele ria do contraste com
ultima visita que havia feito, eu, olhava tudo com normalidade, sendo que era
mais uma curiosa. A presença dos outros quebra o misticismo do abandono mas
retribui com alguma segurança à exploração dos espaços. A 7ª Bataria do Regimento
de Artilharia de Costa foi abandonada, ocupada, vandalizada e permanece abandonada,
a menos que seja um soalheiro domingo de tarde. Do abandono resta aquilo que
não apeteceu a outros destruir ou roubar.
A minha relação com os grafitis, é como quem anda de barco
em dia de alguma ondulação. Balanço entre o que é considerado arte urbana e o
que é considerado vandalismo e não sei para que lado tombo. Gosto mas não de
qualquer maneira. Gosto de perceber que sabem desenhar, que têm uma mensagem,
que há uma alma inquieta, mas que se for muito revoltada que saiba mostrar que
domina com arte os seus demónios.
Ficou-me esta sensação de que me escaparam inúmeros detalhes.
É que “olhos de ver” exigem tempo e esse faltou-nos. Do edifício principal trago
a vista de um terraço, a vista de uma casa banho e trago interação com os
grafitis.
foto do G.
Depois de sairmos dali, segui para onde o G. me indicava. O caminho
faz uma ligeira curva à direita, ligeira o suficiente para nos adoçar com vista
sobre o mar escondendo à direita três canhões e desta vez mais três carros de
tunning. Não houve ralis nem motores a roncar, talvez apenas um batimento mais
acelerado do meu coração com o enquadramento daquele espaço. Canhões adornados
de grafitis não combinam com guerras de altas patentes. Também não combinam com
a natureza da serra da Arrábida mas dão-lhe um colorido apelativo, apontando para
uma paisagem pacificamente inspiradora. Imagino quantos soldados rasos
vigilantes se entediaram com a linha do horizonte. Tantos eram os bolsos das
suas fardas e será que nenhum guardou neles anotações apaixonadas sobre aquele
tempo e espaço, ou um livro para ler no intervalo do “sim meu capitão, vou já
tirar o pó às munições”. Divagações (minhas) à parte, descemos ao bunker onde
eram guardadas (as munições) e onde permaneci pouco tempo, o suficiente para que a escuridão
me começasse a minar de pensamentos estranhos e superáveis com a vista do piso
acima. Entretanto o azul do céu diluiu-se com o azul do mar e nós já esbatidos na penumbra, fomos os últimos a abandonar aquele lugar.
à semelhança do veado no breu na serra da louçã, para nosso espanto, vimos um gineto, principalmente a sua vistosa cauda.
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