estou a sorrir.
A meio da semana, estando
indecisa, vi-me de repente direccionada para fazer algo diferente e para o qual
não sentia qualquer apelo, ia fazê-lo porque sim, porque me sugeriram outra
opção. Dormi mal sobre o assunto e no outro dia decidi-me a fazer o que me
apetecia, ou então não faria nada, mas nada de contraria-me. Depois pedi que no
domingo fizesse mau tempo, porque só assim faria aquilo que me apetecia e a
meteorologia parecia estar a meu favor.
Hoje, domingo, o relógio
despertou às 6h00, respirei fundo, levantei-me, equipei-me e fui buscar o
tapa-vento... "tomara que eu precise dele". Peguei na mochila e fui
esperar aquele amigo que me desafia para os trails. Este foi numa localidade pela
qual sentia curiosidade, Mação. Fui conduzida até lá, onde já se encontravam
outros amigos e foi confraternizar até ao sinal de partida. Depois da contagem
decrescente estaria de volta dali a 27 km.
Partimos já sob
chuva-molha-parvos-e-outros e eu feliz porque não queria fazer o trail debaixo
de calor. O tapa-vento estava puxado até ao pescoço mas depressa o calor que
sentia dentro dele me fez tirá-lo. A chuva continuava. Tinha levado chapéu para
proteger-me do sol, mas descobri que é igualmente eficiente a proteger-me da
chuva. Os óculos não se molharam tanto nem embaciaram, só me tira um pouco de
visão periférica, tão necessária para avistar de forma intuitiva as fitas
sinalizadoras do caminho, evitando perder-me. Até ao km 10 tive a companhia de
um colega de equipa estreante nestas andanças e logo "atrapalhado"
com tudo o que era novidade e com a quantidade de apetrechos com que se
armadilhou... depois disparou e fiquei por minha conta.
Sem ninguém a quem dar
conselhos segui com os meus pensamentos assentes na vida e ali naquele
momento. segui com os meus pensamentos assentes na vida e ali naquele
momento. Naquelas serras que me cercavam, no
cheiro dos eucaliptos, dos pinheiros e de outra vegetação diversa, no cantar
dos pássaros, no estradão que percorria e circunscrevia as serras, na chuva que
me refrescava, no vento que corria a uma temperatura confortável deixando-me
apreciar tudo. Como não podia deixar de ser uma pena imensa de não ter a
máquina fotográfica para registar aquela parte do percurso que tendo muita
vegetação seca no caminho, o orvalho acumulado lhe dava um efeito de algodão
doce dando a sensação que corria por entre uma penumbra. Segui, segui e eis que
desço até a uma ribeira, Ilha da Fadagosa e as fitas indicavam que devíamos
percorrer uns metros da mesma. Com água acima dos joelhos lá me fui
equilibrando e desequilibrando sobre os seixos escorregadios, tive quase quase
para ir a banhos mas escapei-me. Depois foram duas travessias sobre a ribeira
por pontes improvisadas de troncos e cordas e enquanto as passava só pedia que
os pés não escorregassem e não me desse nenhuma vertigem... passei a primeira e
a segunda e depois foi andar ao longo da margem da ribeira. Aqui um cenário
cinematográfico sem palavras para descrever o privilégio que foi passar por
ali, e o ridículo que é não parar para contemplar. Que linda
toda aquela atmosfera, o som da ribeira, a ribeira em si, a vegetação
densa que tinha de afastar com as mãos e baixar-me para puder passar.
Atravessar novamente a ribeira sobre o local onde faz cascata. Houve um momento
em imaginei que podia aparecer por ali o Frodo Baggins do senhor dos anéis ou um qualquer mago do bem
para me cumprimentar. Lindo!! Foi o que verbalizei de forma audível face à
última travessia sobre um espelho de água, parei para olhar à volta... ali
sozinha sem ninguém para concordar comigo ou garantir-me de que não se tratava
de um sonho retomei rumo ao estradão
Fui
tomar banho e regressei ao local prova para o almoço no recinto de uma feira
que estava a decorrer e mal entro no "restaurante" de ar livre,
estava a ser anunciada a classificação das mulheres e eis que sou chamada por
ter ficado em terceiro lugar eeeeehhh (sendo que eramos só 3 raparigas,
não faz mal). Por este meu feito ganhei 2 chouriços de produção tradicional,
hummm que pitéu!! ah ah ah! Sentei-me à mesa para almoçar e como já seria de
esperar foi só rir com os meus amigos que dizem muitos disparates
quando estão juntos. O almoço foi excelente e bem servido a rematar com
melancia (já tinha saudades) e arroz doce. Este dia não fica por aqui mas por
agora é tudo...
Tirando
os percalços finais, adorei este trail, com este tempo fez-se que foi uma
maravilha, sem nunca sentir a fadiga do calor foi muito bom!!
a caminho desta prova convívio pensava em como, comparativamente com outra que podia ter optado por fazer à mesma hora, não muito longe dali, com características geográficas e distância semelhantes, numa via os gigantes de D. Quixote e na outra (esta) via os moinhos. Estou a sorrir e a sentir-me feliz com a minha opção... e em como acabei por passar muito perto de um velho moinho...
1 comentário:
Que bela descrição! quase consigo visualizar os sítios por onde passaste :)
Gabo-te a coragem e a força para conseguires realizar estas provas mas percebo tudo o que possa envolver este tipo de prova que acredito que vá muito para além de uma boa preparação física.
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