“(...) A Imagem só pode entrar na corrente da consciência se for ela própria síntese e não elemento. Não há, não pode haver imagens dentro da consciência. Mas a imagem é um certo tipo de consciência. A imagem é um acto e não uma coisa. A imagem é consciência de alguma coisa.” in "A Imaginação" de Jean-Paul Sartre
segunda-feira, 30 de setembro de 2024
quinta-feira, 26 de setembro de 2024
quinta-feira, 19 de setembro de 2024
terça-feira, 10 de setembro de 2024
Pode alguém não amar o banal?
Alguém já cuidou que assim fosse,
desde os primeiros cueiros!
A primeira bebedeira infantil.
O cuspir mais alto, o mijar mais longe.
A dejua da sopa morna às 4 da manhã
O cheiro da cafeteira das 9
espumando fervura por 3 vezes
O perfume do peixe fresco
na fritura das 10
o almoço do pai no meio do pão
O jantar depois do meio-dia
a instrução primária até às 3 da tarde
as incompreensíveis reguadas nas mãos
as pancadas na nuca após a súplica
a violência dos puxões de orelhas
após o protesto…
A mãe passando a ferro vigiando cópias
O pai passando multiplicações e divisões
de 12 algarismos antes da sesta
Como pode alguém não amar o que é feio?
Trazer para o poema
os abusados que abusam
os violentados que violentam...
só assim perante o injusto
pode o Incêndio acontecer
Poema de Joyce e Ana Terra "Essa mulher" com Elis Regina 1979)
De manhã cedo essa senhora se conforma
Bota a mesa, tira o pó, lava a roupa, seca os olhos
Ah, como essa santa não se esquece
De pedir pelas mulheres, pelos filhos, pelo pão
Depois sorri meio sem graça
E abraça aquele homem, aquele mundo que a faz assim feliz
De tardezinha essa menina se namora
Se enfeita, se decora, sabe tudo, não faz mal
Ah, como essa coisa é tão bonita
Ser cantora, ser artista, isso tudo é muito bom
E chora tanto de prazer e de agonia
De algum dia, qualquer dia entender de ser feliz
De madrugada essa mulher faz tanto estrago
Tira a roupa, faz a cama, vira a mesa, seca o bar
Ah, como essa louca se esquece
Quanto os homens enlouquece nessa boca, nesse chão
Depois parece que acha graça
E agradece ao destino aquilo tudo que a faz tão infeliz
Essa menina, essa mulher, essa senhora
Em quem esbarro a toda hora no espelho casual
É feita de sombra e tanta luz
De tanta lama e tanta cruz que acha tudo natural
quarta-feira, 4 de setembro de 2024
segunda-feira, 2 de setembro de 2024
Primeiro dia do regresso à creche. O ano passado estava muito nervosa com a mudança de creche, a questionar-me se teria tomado a decisão certa, para ti e para mim. Sofri na dúvida. Ficaste 2 dias a chorar mas quanto te ia buscar estavas bem (do que se entende por bem ao mudar a rotina de uma bebé repentinamente de um contexto de férias para estar fechada numa sala com desconhecidos). Depois nunca mais choraste, até hoje. Apática e a observar mas ficaste nessa distração em que vives a absorver o mundo que te rodeia. Quando te fui buscar já me havia mentalizado que haveria alguma alteração de humor e assim foi, um misto de excitação a camuflar um cansaço, acredito que mental de teres passado um dia a gerir emoções de sucessivos comportamentos adaptativos às circunstâncias que te rodearam. Passeamos, com um ida ao chaqueca (escorrega) passando pela cidade, pela biblioteca e regressando já com sentido no lérilé (leitinho), onde quase sucumbiste. Pensei se devia aproveitar para descansares mas ao mesmo tempo parecia ainda muito cedo. Sucederam-se birras alternadas de excitação, choro e adormeceste sim que pudeste. Também estava cansada a fazer o meu esforço por te compreender e respeitar. Falhei, fiz o melhor que pude. Chorei quando saí da creche, por mim e pelos pais que deixam os filhos pela primeira na creche. Um ano voou, todo o tempo do mundo contigo é pouco.
Amo-te muito Elisa ♥️
Este ano o tema de decoração da creche são os moinhos de papel, que eu adoro. Portanto logo à entrada fiquei entusiasmada com esta particularidade e pensei nos gigantes de D. Quixote. Como se agigantam estes dias, na bravura com que te vejo a seres num momento de cada vez. Seguir rodando ao sabor não vento nesta fragilidade de ser criança.